A professora (preferimos omitir o nome) tem mais de 27 anos de magistério. Realizou toda uma carreira na educação municipal, fez curso de especialização e se dedica à Educação Especial.
Seu salário base é R$ 3.450. Apenas razoável para uma profissional com formação superior e larga experiência no atendimento a deficientes visuais. Seu vencimento é compensado com gratificações por tempo de serviço, pela sua formação e por atuar na Educação Especial.
Ela já poderia ter se aposentado em seu padrão de 20 horas semanais, mas em fevereiro deste ano, aceitou substituir uma colega, assumindo mais 20 horas de trabalho.
Em março, o contracheque da professora denunciava que seus direitos não estavam sendo respeitados.
Os salários de fevereiro e março pela substituição não foram pagos.
Mesmo com todos os direitos adquiridos para a aposentadoria, ela continuava não recebendo o abono permanência. Para incentivar os trabalhadores a permanecer trabalhando, a lei isenta de pagar a Previdência os servidores que cumprem os requisitos e não requerem aposentadoria.
Como o desconto continua ocorrendo, o governo faz o ressarcimento com o abono permanência. A professora havia entrado com processo administrativo para ter de volta o que fora erroneamente descontado.
Finalmente em abril ela veio a receber tudo aquilo que lhe era direito.
Ela começou a receber salário pela substituição temporária. Não só pelo mês, mas os atrasados de fevereiro e março, também.
O valor foi ainda maior porque nesse mês foram pagos todos os abonos permanência atrasados, com a devida correção.
O total com salário do mês, salários atrasados, gratificações e indenizações foi R$ 22.500. Com todos os descontos, recebeu R$ 18 mil
Em maio, a Prefeitura de Araucária incluiu no Portal da Transparência os vencimentos dos servidores. Colocou valores brutos, sem discriminar o que estava sendo pago a cada um.
Logo apareceu na mídia um factóide, que se transformou em escândalo. “A professora com salário de R$ 22 mil!”
A Prefeitura não desfez o equívoco. Tirou proveito da situação pra difundir a ideia de que servidor público de Araucária ganha bem demais. Justamente agora que se aproxima a data-base da categoria e os sindicatos querem negociações para a correção salarial, por melhores condições de trabalho, etc.
