Por Wemerson Damasio, professor da rede municipal e estadual de Curitiba
Em resposta ao artigo ‘Professores, acordem!’ publicado na revista veja em 11 de maio de 2014, escrito por Gustavo Ioschpe.
Esta semana li um artigo, muitíssimo bem escrito – aliás, entenda-se bem escrito como: sem erros –, sobre professores na revista Veja, do então especialista em educação Gustavo Ioschpe. Sim, especialista em educação, segundo o que consegui buscar na internet. Indignado com o que li, resolvi expor aquilo que penso, mesmo porque se professor pode ser catado na rua, escritores de artigos também o podem.
Vivemos em um mundo capitalista, isso não é novidade para ninguém, afinal, com os preços absurdos das coisas, é natural que se pretenda receber mais pelo trabalho exercido. Cada um, em sua profissão, espera ser reconhecido financeiramente por aquilo que pratica e isso é um direito de todos e faz movimentar, economicamente, todo um país. Dentre os quais estão os formadores de opiniões.
Ouvi muitas vezes o dito popular “de médico e louco, todo mundo tem um pouco”, o que não é mentira. Recentemente, resolvi parafrasear ou parodiar (ficou aqui a minha dúvida) “de professor e louco, todo mundo tem um pouco”.
O porquê da mudança se deu devido a fatos diretamente ligados à educação brasileira. Seriam os educadores e professores vampiros econômicos? Estariam eles pensando única e exclusivamente em seu pequeno mundo? A autoflagelação passou a ser uma prática constante? A sociedade, por sua vez, apoiaria essas atitudes?
Pois bem, a resposta para cada uma dessas perguntas é: NÃO. E sim, com letra maiúscula para que possa ser bem vista por aqueles que ainda acreditam em um país melhor. E, por falar em país melhor, recordo-me de discursos políticos que exaltam a educação como o ponto de largada para esse resultado.
Uma luta, luta no sentido quase que literal da palavra (o que fugirá do contexto mencionar bombas, represálias, cavalos e outras coisas), é pelo PIB de 10% voltado para a educação. Repetirei EDUCAÇÃO (letra maiúscula novamente, pelo mesmo motivo), e quando falamos aqui em educação, falamos em escolas, públicas ou privadas, estrutura física e de pessoal.
Engana-se, e muito, quem acredita que a escola é feita de alunos e professores. Sim, estes fazem parte, mas somente uma parte. Além deles existem a secretária, os funcionários da limpeza, a responsável pela merenda (essa pessoa é muito importante), os equipamentos, o material escolar… muita coisa.
Divida agora 10% por tudo isso e muito mais, você terá como resultado um percentual baixíssimo, tendo em vista que é lá na escola que se espera a formação de um futuro país. E colocamos toda essa responsabilidade sobre os ombros de um professor, esquecemo-nos do restante, principalmente daquele que retira o seu filho de sala de aula e o leva para o setor pedagógico porque ele está com dores de cabeça, estômago, no braço, no pé ou em qualquer parte imaginável do corpo. Daquele que precisa de um atendimento especial porque demonstra certa defasagem de aprendizado. Ou de outro que por ventura necessita de um material diferenciado para que possa aprender. E por falar nisso, quem é que vai pagar esse material diferenciado? O professor? Esse que possui em média 35 alunos em sala?
Infelizmente, sim. Mas por que se a educação é o princípio de tudo? Porque na mente de alguns, o professor está preocupado somente com o seu salário no final do mês. Alguns que não se dão ao trabalho de ler o que significa 10% para a educação. Alguns que não estão preocupados se no sertão existem salas de aulas adequadas, merenda, carteira e material escolar. Alguns que deixam o seu filho na escola porque é um trabalho a menos durante algumas horas. Alguns que possuem a profissão que exercem não porque passaram pela escola, mas porque caiu do céu. Opa? Está chovendo profissões? Sinto decepcioná-lo, mas não.
Não é porque o profissional da educação sai às ruas reivindicando melhores condições que isso quer dizer melhores salários. É porque ele cuida de um filho que não é dele e que está preocupado com o futuro dessa nação. Simples assim.
Extraído do blog Pausa Dramática