No Brasil de Bolsonaro, não temos tempo de chorar o estupro de mulheres indígenas e suas crianças na Amazônia, pois, no dia seguinte tentamos chorar a tortura e o assassinato cruel de Bruno e Dom Phillips.
Mas, no Brasil de Bolsonaro, também não temos tempo de chorar a morte do indigenista e do jornalista, pois, no dia seguinte há uma criança de onze anos impedida por uma juíza de realizar o aborto seguro, previsto em lei em casos de estupro. Uma criança que foi retirada de sua mãe e enviada a um abrigo. Uma criança obrigada a ser “mãe” porque uma juíza acha que um estuprador pode ser um “pai”.
E nesse Brasil misógino e machista que não desacelera nunca a sua máquina de moer mulheres e defensores da natureza, também não temos tempo de chorar a violência sexual e a violência do Estado contra as crianças. Já no dia seguinte, temos que nos indignar com a exposição, pela bolsonarista Antonia Fontenelle e o irresponsável jornalista Léo Dias, da atriz Klara Castanho, que, mesmo tendo o direito legal, escolheu por não abortar – mas também não pôde exercer em paz o seu direito de doar legalmente o fruto do estupro sofrido.
No Brasil que cala e amordaça, também não há tempo para chorar a injustiça com a jovem atriz porque, agora, choramos a morte de Marcelo Arruda, que queria apenas comemorar seu aniversário com a esposa, os quatro filhos e os amigos, mas também foi impedido por um assassino apoiador de Bolsonaro. Um policial que invade uma festa e mata o próprio aniversariante por não suportar viver em uma democracia, por ter ódio dela. Por achar que tem o direito de escolher quem deve viver e quem deve morrer, pois assim disse o seu presidente.
E, novamente, no Brasil de Bolsonaro não temos sequer um respiro, um minuto de paz para lamentar o terrível assassinato de Marcelo Arruda porque, enquanto isso, uma mulher que acaba de dar luz a um bebê é vítima de estupro por parte de um médico anestesista. Médico esse que deveria poupá-la da dor, e não causar mais dor violando seu corpo num dos momentos mais frágeis e delicados para qualquer mulher.
Por qual desgraça, estupro ou assassinato teremos que chorar amanhã?
É tempo de repensar o Brasil e construir um país capaz de ser seguro para as mulheres, os indígenas, os negros, os defensores da floresta, os jornalistas e todos aqueles e aquelas que hoje são perseguidos por um desgoverno que massacra o povo todos os dias, sem dó e nem piedade.
O Brasil de hoje é um país triste, pois nenhuma nação pode voltar a ser feliz enquanto as mulheres não têm propriedade do próprio corpo, onde a misoginia impera, a cultura do estupro avança e o próprio Estado escolhe ser o seu inimigo número um.
Mas, sobretudo, é tempo de retomar a democracia e, assim, a dignidade de um país que não merece de forma alguma ter um algoz na presidência. É tempo de reconstruir o que foi devastado por Bolsonaro e todos os que ainda são seus apoiadores.