Mesmo com muitos pedidos e manifestos para que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) seja adiado em função da pandemia, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, abriu as inscrições para o exame, que vão até esta sexta-feira (22). Assim, mais uma vez, ignora a realidade dos estudantes, principalmente dos mais pobres e negros.
Em outros países, como China, EUA, França e Argentina, os governos já tomaram medidas para que os exames válidos para vestibular sejam adiados. No Brasil, no entanto, o Ministério da Educação (MEC) joga a responsabilidade para os estudantes e já demonstrou, a partir de sua propaganda veiculada na TV, que não se importa com a sensibilidade que o momento exige.
Por que o Enem deveria ser adiado?
Com a implementação do Ensino a Distância na rede pública, muitos alunos estão impedidos de se preparar de forma adequada para o exame. Segundo pesquisa do IBGE, 30% dos domicílios não têm acesso à internet e 40% dos domicílios com alunos do Ensino Médio não têm computador. No campo, a situação é ainda mais grave, já que mais de 53,5% estão sem acesso à internet.
Ou seja, os alunos mais pobres, que não têm acesso a internet e muito menos um local propício para estudar dentro de casa, serão extremamente prejudicados no Enem. Já alertamos em materiais anteriores que o EaD é um modelo de ensino excludente e, com a realização do exame nacional, a desigualdade educacional vai ficar ainda maior.
O aluno pobre, que mora na favela e não tem como estudar durante a pandemia, não tem a oportunidade de ter o mesmo desempenho que outros alunos, de famílias com melhores condições financeiras e que têm todo o suporte para estudar em casa. Além disso, a realidade é que muitos alunos do terceiro ano já trabalham e continuam trabalhando durante a pandemia, o que faz com que não tenham tempo para estudar.
Com mais de 16 mil mortos pela Covid-19, o Brasil está entre os países mais afetados pela pandemia. Ou seja, há que se considerar também que muitos alunos, que já vivem a pressão do vestibular e a ansiedade em função do surto de coronavírus, também estão tendo que lidar com o luto neste momento, pois perderam seus familiares.
Segundo um estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a ansiedade e o estresse mais que dobram no país durante a quarentena. Se em condições normais os estudantes já sofrem com a pressão do Enem, como ficam neste período de incertezas devido à Covid-19? Exigir uma preparação adequada neste momento é injusto e cruel.
Outro problema é que até agora ainda não existe um plano de contingência para a realização do Enem, caso o surto de coronavírus se arraste até a data da prova. A previsão da Universidade de Tecnologia e Design de Singapura, por sua vez, é a de que a pandemia só acabe em novembro no Brasil.
Por todos esses motivos, o SISMMAR se soma aos movimentos estudantis e conselhos educacionais na reivindicação pelo adiamento do Enem. Seguimos firmes na defesa de uma Educação Pública, Gratuita, Laica e de Qualidade Social para todos!
Queremos os mais pobres e negros na universidade!