Texto publicado originalmente na coluna do SISMMAR na edição do Jornal O Popular desta quinta-feira (9)
As aulas em toda a rede de ensino público estão suspensas, desde março, devido à pandemia de Covid-19. E em meio a esse cenário de incertezas e angústias, tanto por parte dos trabalhadores da educação quanto dos pais e alunos, os governos se aproveitam do coronavírus para tentar colocar o Ensino a Distância (EaD) como solução para não perder o ano letivo.
No dia 1º de abril, Bolsonaro publicou uma Medida Provisória que suspende os 200 dias letivos, mas mantém as 800 horas de aula. Assim, na prática as unidades educacionais vão ter que cumprir a carga horária mínima em uma quantidade menor de dias letivos. Além disso, essa MP abriu brechas para que os estados e municípios tenham autonomia para implantar o ensino a distância.
No Paraná, o governador Ratinho Jr, que vem retirando direitos dos professores e funcionários de escolas desde o início de seu mandato com a desculpa de que o estado não tem dinheiro, já torrou mais de R$ 22 milhões para implantar o EaD. O dinheiro foi todo destinado a empresas privadas para que desenvolvam o projeto de ensino a distância na rede pública estadual.
Assim como Bolsonaro, Ratinho Jr não ouviu os professores ou especialistas em educação antes de torrar todo esse dinheiro. Na ânsia de atender aos desejos dos empresários que querem lucrar às custas da educação pública durante a pandemia, o governador do Paraná gastou milhões que foram destinados à TV Record e empresas de telefonia celular a fim de que desenvolvam teleaulas e apps para EaD.
Porém, logo que o aplicativo Aula Paraná foi utilizado na rede estadual, já mostrou a sua ineficiência. Nesta segunda-feira (6), no primeiro dia de funcionamento do app, os estudantes foram expostos a chats de pornografia e chamamento para suicídio coletivo, o que fez com que os pais ficassem indignados e denunciassem o aplicativo para o Ministério Público de Londrina.
Além disso, há diversos outros problemas. Não é possível falar em EaD num país desigual como o Brasil, onde parte da população sequer tem acesso a computador e celular com internet. Caso seja implantado, quem perde mais uma vez são os mais pobres, que não terão a chance de acompanhar as aulas a distância e podem aumentar os índices de evasão escolar no país.
Também vale lembrar que os professores, em sua maioria, não têm formação para atuar na educação a distância. Por sua vez, os estudantes não desenvolvem do dia para a noite características como autodisciplina, autonomia e capacidade de concentração, que são necessárias para ter um bom desempenho nas aulas por aplicativo ou teleaula.
É inaceitável que os governos tratem a educação como mercadoria e coloquem o EaD como solução num momento tão sensível como esse e sem o debate necessário.
O SISMMAR se manifesta publicamente em defesa da Educação Universal, Laica, Pública e Gratuita de Qualidade Social para todos!
Educação não é mercadoria!
EaD não é a solução
Suspensão do calendário já!