Por Noé Gomes
No dia 13 de maio de 1888 oficialmente é mencionado no calendário oficial, como marco final da escravidão no Brasil, que desde o período colonial, em 1500, os seus colonizadores (os portugueses) adotaram o escravismo como mão-de-obra para a extração de nossas riquezas.
O processo de escravidão no Brasil, começou com os indígenas, quando nos 30 primeiros anos de ocupação portuguesa em solo brasileiro viveu o ciclo da extração do pau-brasil para a Europa, onde os indígenas eram usados neste momento, tendo os portugueses valendo-se do escambo para a concretização deste processo. Nos anos posteriores, teve inicio o Ciclo do Açucar, onde os colonizadores tentaram cooptar a mão-de-obra escrava indígena, mas sem sucesso. Ainda no século XVI, em substituição a mão-de-obra nativa, vieram os primeiros negros que até o século XIX, que foram subjugados ao poder dos colonizadores portugueses.
A mão-de-obra escrava negra, foi substituída pelos colonizadores europeus a partir da segunda década do século XIX, desde então o negro torna-se um agente á margem da sociedade, pois liberto do processo escravocrata acaba vivendo a falta de oportunidades.
O 13 de maio é contestado pelo Movimento Negro, que elegeu o dia 21 de novembro como a data da Consciência Negra, mas porque não fazer de hoje, uma data de reflexão? Mesmo sendo oficialista, penso que o 13 de maio pode servir para o debate e reflexão do negro hoje. Este debate tem que ser feito principalmente na Escola. O antropólogo Kabengele Munanga, na página 15 do livro “Superando o Racismo na Escola”, na condição de organizador da obra, faz um apontamento importante:
Partindo da tomada de consciência dessa realidade, sabemos que nossos instrumentos de trabalho na escola e na sala de aula, isto é, os livros e outros materiais didáticos visuais e audiovisuais carregam os mesmo conteúdos viciados, depreciativos e preconceituoso em relação aos povos e culturas não oriundos do mundo ocidental. Os mesmos preconceitos permeiam também o cotidiano das relações sociais de alunos entre si e de alunos com professores no espaço escolar. No entanto, alguns professores, por falta de preparo ou por preconceitos neles introjetados, não sabem lançar mão das situações flagrantes de discriminação no espaço escolar e na sala como momento pedagógico privilegiado para discutir a diversidade e conscientizar seus alunos sobre a importância e a riqueza que ela traz à nossa cultura e à nossa identidade nacional. Na maioria dos casos, praticam a política de avestruz ou sentem pena dos “coitadinhos” (…)
Proponho a todos nós docentes de escolas públicas e/ ou privadas a fazermos uma reflexão crítica sobre a simbologia desta data. Afirmar que o 13 de maio é uma data oficialista, o que não deixa de ser verdade, é muito pouco! Penso que não pode haver um hiato entre o 13 de maio e o 21 de novembro. Por isso, esta data pode servir de pontapé inicial de uma reflexão sobre o papel do negro em nossa história.
Numa visão de uma “História Vista de Baixo”, o 13 de maio com certeza é uma data que nada tem de popular e por isso no ambiente escolar podemos suscitar a discussão ou a inquietação em nossos alunos ao expôr o questionamento da sua validade histórica e talvez possamos trazer em nosso fazer pedagógico a contradição de ideias e não uma visão única e acada dos fatos históricos.
Para auxiliarmos nesta reflexão, é que trazemos o programa “Caminhos da Reportagem” sobre o negro no Brasil, um programa feito às vésperas do dia 21 de novembro e que fala da situação do negro, no Brasil do século XXI
O Negro no Brasil – Caminhos da Reportagem (17/11/2011)
123 anos depois da abolição da escravatura, o número de brasileiros que se declara preto ou pardo é maior do que o de brancos: o Brasil tem se assumido como um país negro também. O Caminhos da Reportagem discute a situação do negro no Brasil através de números que mostram como ainda é preciso superar a desigualdade de renda e de acesso à educação, a pobreza, a violência e encarar de frente o preconceito. Dando início às comemorações da Semana da Consciência Negra, o programa vai mostrar a violência e a indignação cantadas no rap de Salvador, histórias de superação de famílias e um porteiro que abraçou os livros e hoje é desembargador. E, ainda, um menino de rua que se tornou professor, uma editora de livros que investe na temática afro e o grupo de teatro Olodum, companhia que cria espetáculos a partir da tradição, histórias e temática negra.
Reportagem: Luciana Barreto Edição: Isabelle Gomes Produção: Vivian Carneiro e Laine Fabríc
Referência Bibliográfica
MUNANGA, Kabengele (org,). Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.
O livro Superando o Racismo na Escola está disponível, no Site Domínio Público em:http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4575.pdf
Fonte: Blog Falando de História